PROJETO LETRAS CÊNICAS- Léo Pereira
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SINOPSE
Que recompensa tem um trabalhador após mais de três décadas servindo uma empresa? Qual o motivo de uma aposentadoria? Recompensa ou um direito adquirido? O que vale mais: produção ou obediência de normas? Sonhos, fantasias que levam qualquer trabalhador hoje em nosso país, a se refugiar da dura condição de vida que o cerca.
Gervásio, um bancário que, após dedicar toda a sua vida ao trabalho, e não conseguindo suas conquistas mais simples como a merecida aposentadoria e diante da impotência se apaixonando pela cintura do oito - tipo de sua máquina de escrever.
O que seria essa fuga: a loucura, ou a busca de novos valores que o façam viver com mais dignidade que a perdida em tantos anos de dedicação e até deduragem de seus colegas pelo simples fato de estar cumprindo um dever?
Estas perguntas são respondidas a partir da discussão e das indagações que o Grupo de Theatro Arte e Fogo faz passar com o espetáculo POÉTICA BANCÁRIA, de Léo Pereira sob direção de Delgado Filho.
Autor: Léo Pereira
Direção: Delgado Filho
Intérpretes: Semio Carlos, Jusse Lessa, Clodoaldo Marques e Luiz Agôn
Concepção de Iluminação Cênica: Delgado Filho
Operador de Luz: Roosevelt Saavedra
Direção Musical: (Mestre Alemão)
Cenografia: Delgado Filho e Roberto Rita.
Figurino: Rochelle Silva
Maquiagem: Mardem Ribeiro e Cacá Pereira
Produção: Semio Carlos
Adoro o espetáculo Poética Bancária. A composição de Sêmio no papel de Gervásio é excelente e generosa. Os outros atores, menos experientes que Sêmio, também experimentam belos momentos nas diversas composições de cenas e personagens. É excelente e especial também a criação e linguagem da direção com um espetáculo que navega do circense ao frio arquivo do Banco, passando por máscaras teatrais (carne vale) e imaginários da morte (Sétimo Selo). Desejo vida longa. A montagem dos anos 80 ficou em cartaz 10 anos. Acho que o rico imaginários construído pela direção e pelos atores e técnicos merece experimentar os amadurecimentos e supressas conquistados por espetáculos que gosam de longa vida. Parabéns mestre Delgado! Vamos bater a marca dos anos 80. O debate tem sempre longa estrada: o teatro se faz para o exercício do prazer e o debate.
leo pereira.
Em 19 de outubro de 2010 13:23, Léo Pereira
Poética Bancária é um texto escrito em 1982, meu primeiro exercício de dramaturgia aos 22 anos. Fico feliz em saber que ele ainda suscita debates e expressa a desumanização do Ser e a corrupção do trabalho humano. Fico mais feliz ainda em saber que seus versos são simples, permitem uma leitura circense; provocam quem gosta e incomodam quem não gosta. Escrever é uma atitude simples, delicada e dedicada que conversa da mesma forma com o tempo da máquina de escrever e da explosão da internet. "Não sois máquinas, homens é sóis". ...
Agora penso assim: "Os sóis... os sóis... os sóis estão mortos!". (A Doença do Acúmulo - 2007)
Léo Pereira
É uma invenção criativa, inteligente e bem humorada que mescla as habilidades que o diretor Delgado Filho vem adquirindo com os anos de experiência com o carnaval que utiliza na composição de alguns objetos e cenas ,pois o carnaval tem essa ficção que ao teatro é vital. Onde transpõe de forma lúdica a rotina massacrante, o sentido do homem máquina do homem engolido pela estrutura hierárquica social degradante e que trabalha os movimentos dos atores na busca de um anti-realismo com a exploração do corpo : mortais, alavanca, jogos de contato enfim demonstrando muito conhecimento dessa arte milenar .
A música coordenada pelo mestre Alemão é bastante explorada nas cenas da repartição o que enriquece as formas , no trem que o personagem pega ,com o músico que toca através da sombra emocionando e quebrando a corrente dramática numa intervenção que é bem vinda aos ouvidos do espectador .A única restrição se encontra no chocalho que permanece da cena do trem no corpo dos atores que realizam a cena da repartição o que causa um certo incomodo no público .
O texto de Leo Pereira é critico criativo, rimado,fala de forma metafórica sobre uma realidade tão comum e tão dura de todos nós.Essa vida de tédio, exploração e rotina que cerca a vida moderna com seus personagens que vagam pela paisagem sem alma.
Os atores realizam bem seu papel com desenvoltura cênica. O ator Sêmio Carlos interpreta o protagonista Gervásio com habilidade corporal, gestos medidos, controlados que demonstram conhecimento técnico.Possui grande potencial expressivo principalmente no olhar brilhante e penetrante o que poderia ser melhorado é a interpretação da parte dramática onde recai em algum momento num estilo vocal que remete a outras personagens interpretadas por esse mas explorando seu incontestável talento essa restrição será de a muito superada pois tem potencial vocal, experiência e emoção. Jusse Lessa interpreta Maria mulher de Gervásio demonstrando habilidade e naturalidade cênica num a vontade da profissão é uma mulher dócil,doada ao marido numa prestatividade de Amélia . Clodoaldo Marques e Luiz Agôn interpretam o chefe e o funcionário. Também desempenhando outras funções no espetáculo como no trem, os médicos de sirene, Realizam bem sua parte na composição demostrando entrosamento cênico e conexão de grupo.
O bom, o bonito no teatro é o conjunto a comunidade artística que se estabelece com os integrantes de um grupo teatral.O teatro tem por si só o poder da contrapartida social pois na sua mesma composição é uma arte coletiva que luta por manter um relacionamento humano e orgânico entre si a priori e a principio e depois com a comunidade (sendo um grupo teatral uma comunidade)
O recurso do filme utilizado nas cenas finais do espetáculo enriquece na medida que quebrando a linguagem traz um outro modo visual ,um recurso inteligente com o vídeo acelerado lembrando os filmes preto e branco mudos que tanto encantaram o mundo .
O cenário de Delgado Filho e Roberto Rita traz a possibilidade de exploração do espaço e recursos como da utilização do plano superior, as cadeiras ,das sombras laterais onde o músico toca, da cama vertical (interessante) onde o casal se junta e esta mesma virada cria outra possibilidade.O espetáculo é bom é certo mas parece-nos que falta em si algo ainda não identificado mas presentido, o teatro é uma arte imersiva , escavatório e principalmente aberta.
Este espetáculo faz parte do repertório do Grupo de Teatro Arte & Fogo que é extenso e que o público goianiense ganharia muito em conhecer. O teatro é uma forma de ver e interpretar a realidade criando uma contraposição a esta.Traz uma reflexão, uma realidade fissionada em todos os seus elementos. Poética Bancária é uma experiência e de ver executado no palco uma transposição cênica de uma história poética com os recursos ficcionais, o jogo e a criatividade que são característicos dessa arte tão amada de nós todos ou que pelo menos deveria ser tão amada de nós todos.
Assistido a 03 de setembro de 2010 no Centro Cultural Goiânia Ouro dentro da programação da I Revirada Cultural de Goiânia.
Goiânia , 08 de Setembro de 2010
Marília Ribeiro Cia. Novo Ato